Os moradores de Praia Grande, no litoral sul de São Paulo, estão cada vez mais preocupados com a violência na cidade. Apesar de iniciativas de segurança pública, alguns incidentes recentes apontam a necessidade de medidas mais eficazes.
Munícipes contam que roubos e furtos são frequentes na orla das praias e em alguns bairros mais afastados.
“Impostos altíssimos e ruas desoladas à noite, dá medo de andar aqui, parece cidade abandonada”, desabafa uma moradora.
Relatos preocupantes
“Invadiram minha casa 9 vezes, roubaram minhas cadeiras de praia, bolsas térmicas. Levaram até minhas plantas. E o bairro ainda continua inseguro”, desabafa Tânia, que mora no bairro Sítio do Campo .
Jailson, que reside no bairro da Vila Sônia, afirma que criminosos também já invadiram sua residência e levaram itens pessoais:
“Eram três homens, eles entraram na minha casa à noite, quando todo mundo já estava dormindo e roubaram três celulares e minha maleta de ferramentas de trabalho, me impedindo de trabalhar. Não estamos seguros nem dentro da nossa própria casa”, relatou Jailson, indignado com a falta de segurança na cidade.
Além dos casos de invasão a domicílio, a população alega insegurança ao andar nas ruas da cidade, visto que em alguns locais, falta iluminação adequada e ronda policial.
“Pouco se vê policiamento nos bairros. Geralmente, as viaturas da Guarda Municipal ou da Polícia Militar ficam estacionadas na orla, mas os bairros mais afastados também precisam de atenção do poder público”, afirma Paulo, que mora no Ribeirópolis, bairro localizado próximo ao viaduto Curva do S.
Maria, aposentada que morou durante quatro anos na Aviação, conta que decidiu se mudar de Praia Grande após a filha ser assaltada mais de cinco vezes na cidade.
“Minha filha teve o celular roubado no ponto de ônibus em uma tarde de domingo enquanto aguardava a condução. Outra vez, estava caminhando pela orla e foi surpreendida por um ladrão de bicicleta, ela saiu correndo e conseguiu fugir do assaltante. A cidade tem condições de ser um bom lugar para morar, mas ainda falta investimento na segurança dos moradores”, declarou a aposentada.
Medo e mudança de hábitos
Para evitar situações de risco, muitos moradores têm alterado sua rotina.
“A gente que mora aqui perto do calçadão, evita sair na rua depois das oito da noite por que tem medo de ser assaltado”, relatou Cássia que mora próximo a orla da Aviação.
Alguns munícipes deixaram de frequentar a praia com medo de arrastões que são comuns na alta temporada. Outros, porém, não deixam de desfrutar a praia e as atrações turísticas da cidade, mas sempre com muito receio.
“Vou com meus amigos nos shows de verão, mas andamos na rua sempre preocupados com nossos pertences. Falam para guardar o celular e não andar com colares ou relógios, principalmente na beira da praia”, contou Larissa, estudante.
Nathalia, que também reside na cidade, demonstra insatisfação com a falta de segurança e policiamento em algumas praias e no centro, principais locais onde a presença dos infratores é mais intensa.
“Como pode a gente não ter paz para aproveitar a praia, curtir o único lazer que temos aqui. Nossa gestão está muito atrasada quando se trata de segurança pública”, comenta a jovem.
Prejuízos para o Comércio
O comércio local, que depende principalmente do fluxo turístico, também sente os reflexos da falta de segurança na cidade. Restaurantes, bares, lojas e quiosques relatam queda nas vendas, já que os turistas passam menos tempo circulando nas áreas mais movimentadas devido ao medo de roubos e furtos.
Segundo comerciantes da região, os assaltos ocorrem principalmente no período da noite. Mas, há casos em que lojistas foram roubados em plena luz do dia.
“Eu trabalho com a venda de produtos artesanais há mais de oito anos aqui na cidade e já presenciei vários assaltos a lojas no durante a tarde. As pessoas começam a correr e gritar no meio da rua, aí a gente já sabe que teve um roubo ou uma tentativa de assalto”, explica Luiz, ambulante que trabalhava nas regiões do Boqueirão e Guilhermina.
Há duas semanas, uma loja de roupas localizada na Avenida Presidente Costa e Silva, no bairro do Boqueirão, foi invadida e saqueada por uma quadrilha. Os ladrões fugiram levando uma grande quantidade de peças de roupas.
O proprietário do estabelecimento diz que é a terceira vez em que sua loja torna-se alvo de criminosos, contabilizando um prejuízo de mais de R$200 mil.
“A gente trabalha o mês inteiro para perder tudo em segundos. Não existe policiamento suficiente e os bandidos usam disso para se beneficiar”, reclama um morador.
Mesmo com medidas preventivas, como a instalação de sistemas de segurança e treinamento de funcionários para situações de risco, os comerciantes de Praia Grande temem o aumento da criminalidade e a crescente onda de roubos nos estabelecimentos da cidade.
“Trabalhamos para sustentar bandido, é lamentável”, desabafa um empresário da região.
O impacto no turismo
A sensação de insegurança tem feito muitos turistas reconsiderarem seus planos de viagem.
Relatos de assaltos em praias, furtos de veículos e até crimes violentos circulam nas redes sociais e em grupos de viajantes, o que acaba desestimulando a visitação.
Sendo assim, a falta de segurança vinculada a violência urbana pode afetar diretamente o setor turístico, afastando visitantes e impactando a economia local.
“Deixei de ir à Praia Grande por conta dos roubos”, diz Cristina Leão, que era uma frequentadora assídua das praias da cidade.
Além disso, hotéis e pousadas têm registrado uma redução nas reservas, especialmente em períodos de menor movimento, como fora da alta temporada.
Para o setor, a falta de segurança tem impacto direto no faturamento e na geração de empregos.
“Eu alugo casa na praia há mais de dois anos e nos últimos meses, os números de reservas têm despencado. Muito se deve aos casos de violência e roubos que repercutem nos jornais e redes. Os turistas ficam com medo, né?”, explica Adriano Rocha, proprietário de um imóvel na Vila Tupi.
Uma turista que esteve na cidade no fim do ano, conta que o marido foi furtado durante a queima de fogos.
“Passei o ano novo na cidade e a corrente do meu marido foi roubada enquanto estávamos conversando na orla”, relatou a turista.
Em resposta, uma munícipe disse que entre os moradores, há uma espécie de “regra” para tentar evitar as ações dos criminosos.
“Na Praia Grande, a regra é bem simples. No calçadão e em lugares muito movimentados não usem jóias, como correntes ou colares, não deixem o celular, a carteira e bolsas à mostra. Infelizmente, só assim para evitar que infortúnios aconteçam”, aconselha a moradora, ao fazer um alerta aos turistas.
Respostas das autoridades
O Diário de São Paulo questionou a Prefeitura de Praia Grande sobre os problemas de segurança na cidade. Até o momento, não obtivemos um retorno da pasta.
Enquanto isso, os moradores e os turistas seguem vivendo sob a sombra da insegurança, tentando adaptar-se a uma realidade que tem impactado seu cotidiano e qualidade de vida.
O Diário de São Paulo tenta ainda uma entrevista com o Prefeito de Praia Grande, o senhor Alberto Mourão (MDB), para maiores esclarecimentos à respeito dos investimentos na segurança pública da população local.