São Paulo – Entre abril de 1964 e março de 1985, o Brasil enfrentou um período sombrio sob uma ditadura militar que resultou em diversas violações de direitos humanos. Com o objetivo de preservar a memória das vítimas e educar as novas gerações sobre esse capítulo da história nacional, o Memorial da Resistência se destaca como um importante espaço de reflexão e homenagem à luta pela democracia.
Inaugurado em 2009, o memorial está localizado no coração da cidade de São Paulo, nas dependências do antigo Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops/SP), que funcionou entre 1940 e 1983. Este local foi um dos centros de repressão mais severos do Brasil, e as celas preservadas no térreo servem como um lembrete tangível das atrocidades cometidas durante a repressão política.
Em uma entrevista concedida ao Metrópoles, Ana Pato, diretora do Memorial da Resistência, compartilhou que a iniciativa para a criação do museu começou com um trabalho de história oral, onde relatos de testemunhas foram coletados. “O memorial surgiu como resultado da mobilização da sociedade civil organizada, especialmente do Fórum de Ex-Presos e Perseguidos Políticos, que solicitou ao Governo de São Paulo a transformação deste espaço em um memorial dedicado à memória”, afirmou Pato. O lema ‘lembrar para não esquecer’ guia as atividades do local.
A proposta do Memorial vai além da simples preservação da memória; ele também serve como um centro de educação sobre os direitos humanos. O Centro de Pesquisa e Referência reúne documentos, testemunhos e obras que abordam tanto o período da ditadura quanto suas repercussões na sociedade contemporânea. “A nossa missão é ampliar a compreensão sobre a censura e demonstrar como a ditadura afetou direitos sociais fundamentais, incluindo o direito à participação pública e à manifestação”, destacou Pato.
O público que frequenta o museu é predominantemente jovem e escolar. Para atender a essa demanda, o Memorial oferece visitas educativas guiadas, que são programadas mensalmente para grupos escolares. Recentemente, em janeiro deste ano, o local registrou um aumento significativo na venda de ingressos e no engajamento nas redes sociais, fenômeno atribuído ao impacto do filme “Ainda Estou Aqui” (2024), que aborda o desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva durante a ditadura.
Ana Pato enfatiza a importância do papel cultural na sensibilização social. “Um museu como este é essencial para trabalhar a história da violência política e transformá-la em uma luta por memória, justiça e verdade”, comentou.
O Memorial da Resistência é administrado pela Associação Pinacoteca Arte e Cultura (Apac) e faz parte da Coalizão Internacional de Lugares de Consciência. No espaço, diversas atividades relacionadas aos direitos humanos são promovidas para fomentar o pensamento crítico sobre repressão e resistência.
No térreo do memorial, há uma exposição permanente que foi inaugurada junto com o museu. Além disso, exposições temporárias abordam temas relacionados ao legado negativo deixado pela ditadura. Atualmente está em cartaz a ocupação “Resistências na PUC-SP“, que evidencia a resistência acadêmica ao autoritarismo durante o regime militar. No andar superior, os visitantes podem conferir materiais provenientes do Centro Clandestino ESMA, proveniente da Argentina.
A partir de 7 de setembro de 2024, o Memorial apresenta a exposição “Uma Vertigem Visionária – Brasil: Nunca Mais”, com curadoria do pesquisador Diego Matos. Esta mostra resgata o projeto homônimo realizado entre 1979 e 1985, que resultou na sistematização clandestina de mais de 1 milhão de páginas contidas em processos do Superior Tribunal Militar (STM). A exposição inclui vídeos com depoimentos de advogados e defensores dos direitos humanos que permaneceram anônimos por muitos anos, além de peças artísticas e infográficos apresentados em formatos acessíveis.