Na virada do século, Marcos Herbas William Camacho, conhecido como Marcola, introduziu os tribunais do crime no Primeiro Comando da Capital (PCC). Esses tribunais, compostos por líderes da facção, tinham a função de julgar e punir membros que desrespeitassem as regras internas. Entre os líderes proeminentes envolvidos nesse sistema estava Alexsandro Cardoso Mota, conhecido como Satanás, cujas ações causavam temor e violência em São Paulo.
Investigações do Ministério Público de São Paulo revelaram que Marcola descentralizou as atividades financeiras do PCC, criando células menores conectadas a uma estrutura central. Os “disciplinas”, inicialmente responsáveis pela supervisão financeira, passaram a arbitrar diversas questões dentro da facção, transformando os tribunais do crime em um sistema judiciário paralelo.
Atualmente, cada comunidade controlada pelo PCC possui seu próprio “disciplina” para conduzir julgamentos. Há relatos de práticas de tortura para obter confissões, independentemente da veracidade das acusações.
O delegado Cristiano Luiz Sacrini Ferreira, especializado em questões relacionadas aos tribunais do crime e lotado no Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa de São Bernardo do Campo, destacou as semelhanças simbólicas entre essa justiça paralela e o sistema judicial oficial, porém ressaltou que a pena de morte é comum nos julgamentos do PCC.
Desde 2020, Ferreira tem investigado homicídios ligados a essas execuções sumárias e notado o medo presente nas comunidades devido ao crime organizado. Até o momento, 11 líderes envolvidos nesses tribunais ilícitos foram identificados e detidos, como parte de uma operação contínua para desmantelar essa estrutura criminosa e restabelecer a ordem nas comunidades afetadas.