A inflação no setor de Alimentação e Bebidas, conforme divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), alcançou a marca de 7,69% em 2024. Segundo o governo federal, essa alta é, em grande parte, atribuída às condições climáticas adversas que afetaram as safras.
As previsões atuais não indicam uma diminuição das emergências climáticas nos próximos anos, o que acende um alerta entre governantes e instituições sobre a segurança alimentar e a variação dos preços dos produtos agrícolas.
De acordo com Angel Domínguez Chovert, meteorologista e pesquisador do Centro de Excelência em Estudos, Monitoramento e Previsões Ambientais (Cempa) da Universidade Federal de Goiás (UFG), as alterações climáticas têm provocado impactos significativos nas chuvas e no aumento de secas extremas. “Eventos climáticos severos têm se tornado mais frequentes, afetando profundamente a agricultura. O ideal para o cultivo é a ocorrência de chuvas regulares ao longo do ano”, esclarece.
Chovert observa que, embora algumas regiões apresentem volumes anuais de chuva semelhantes às médias históricas, a distribuição desses eventos tem mudado consideravelmente. “A precipitação está se concentrando em dias específicos, com intensidades elevadas. Essa concentração pode resultar em erosão do solo e danos irreversíveis às culturas, reduzindo assim a produtividade agrícola”, detalha o especialista.
Além disso, as mudanças climáticas trazem consequências que vão além da produtividade das plantas. As ondas de calor também representam um desafio, podendo antecipar a chegada de pragas que afetam negativamente os cultivos. “Isso impacta diretamente a produção agrícola”, afirma Chovert.
Nos primeiros meses de 2024, o Brasil já registrou cinco ondas de calor. Além disso, fenômenos como o El Niño têm contribuído para a escassez hídrica e temperaturas elevadas em várias regiões do país. O ano anterior foi marcado pela maior seca dos últimos 70 anos, segundo dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
Em resposta à estiagem, muitos produtores têm buscado alternativas por meio de sistemas de irrigação. A Agência Nacional de Águas (ANA) revelou que, em 2022, o Brasil possuía 1,92 milhão de hectares irrigados, representando um crescimento de 24% em relação a 2019. Entretanto, como observa Gustavo Macedo de Mello Baptista, geógrafo da Universidade Nacional de Brasília (UnB), nem todos os pequenos produtores conseguem acessar esses sistemas. “Essa limitação pode resultar na perda total ou parcial das safras”, destaca.
Recentemente, o governo federal manifestou otimismo em relação à safra 2024/2025, projetando uma colheita recorde de 328,3 milhões de toneladas de grãos, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Essa expectativa é sustentada por um aumento na área cultivada e uma recuperação na produtividade média das lavouras.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, acredita que as condições climáticas favoráveis previstas para o final de 2024 e o início de 2025 poderão contribuir para a redução da inflação. “Estou confiante de que a safra deste ano será robusta e isso ajudará na estabilização econômica”, afirmou Haddad no início deste mês.
A expectativa representa um aumento de 10,3% em comparação com os 298,4 milhões de toneladas colhidas na safra anterior (2023/2024). Contudo, a queda na força da agricultura observada no último ciclo — uma redução estimada em 7,5% — refletiu-se negativamente no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. Enquanto a agropecuária teve um recuo de 3,2%, os setores de serviços e indústria mantiveram desempenhos positivos, resultando em um crescimento geral do PIB de 3,4%.