Segunda-feira, Março 24, 2025
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Pilotos recebiam R$ 800 mil para realizar viagens a mando do PCC

O tráfico aéreo de cocaína operado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) gera lucros milionários, especialmente quando a carga chega intacta ao destino, geralmente na Europa. O uso de aviões particulares é uma das estratégias mais eficazes da facção.

Investigações da Polícia Federal (PF) revelaram detalhes sobre transações milionárias entre membros do PCC, incluindo conversas interceptadas entre Willian Barile Agati, conhecido como Senna, e dois associados identificados como Don Corleone e Pato Donald. As comunicações expõem os valores elevados movimentados pela organização, com lucros na Europa podendo ser até dez vezes superiores aos preços praticados no Brasil.

Preso desde janeiro, Senna foi transferido em março para a penitenciária de segurança máxima em Brasília, onde também está Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo do PCC desde 2023.

Os pilotos de um jato particular pertencente a Senna receberam cerca de R$ 800 mil cada para transportar uma tonelada de cocaína até a Bélgica. A carga seguiu por terra até a Inglaterra em novembro de 2020.

A estrutura do PCC permite o pagamento de propinas em aeroportos internacionais, como documentado pela PF. Em Bruxelas, um funcionário corrupto, identificado como Pato Donald nas mensagens interceptadas, facilitou a liberação da droga sem interferências.

No Brasil, as investigações apontaram Werner Pereira da Rocha como responsável pelo aeroporto de Boa Vista, em Roraima. Ele colaborava com a célula criminosa de Senna para enviar cocaína à Europa, atendendo a um cliente supostamente baseado em Londres.

As malas com drogas eram camufladas com fundos falsos na aeronave usada por Senna. O administrador do aeroporto recebia cerca de R$ 250 mil por operação e contava com o apoio de um agente da Receita Federal, que ignorava as irregularidades na fiscalização. Para evitar suspeitas, os criminosos simulavam fretamentos turísticos.

O relatório policial indica que cada decolagem de Roraima envolvia pagamentos superiores a R$ 500 mil ao agente corrupto da Receita.

Antes do voo que levou a droga à Bélgica, os criminosos fizeram simulações entre Sorocaba e Bragança Paulista. No lugar da cocaína, usaram toras de madeira moldadas no formato dos tijolos da droga. Essas cargas falsas foram inseridas nos “mocós”, compartimentos ocultos na aeronave.

O PCC também transportava drogas em bagagens de mão, que passavam sem fiscalização rigorosa devido às propinas pagas nos aeroportos.

A defesa de Agati alega que ele é “presumido inocente conforme a Constituição Federal” e nega qualquer envolvimento com o PCC. Segundo seus advogados, ele é um empresário sem ligações com organizações criminosas.

As investigações mostram que a facção não apenas opera sua própria frota aérea, mas também usa laranjas no setor da aviação para facilitar o tráfico. As rotas mais frequentes incluem Bolívia e Paraguai antes da chegada ao Brasil.

As aeronaves pousam em pistas clandestinas ou realizam lançamentos aéreos para entregar as cargas em pontos estratégicos.

No Brasil, a cocaína passa por refinamento antes da distribuição. Misturada a outros componentes, um quilo de pasta-base pode render mais de cinco quilos de cocaína em pó. Parte da droga pura é enviada ao exterior por via marítima ou oculta em bagagens despachadas nos aeroportos.

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