Recentes divulgações de mensagens trocadas pelo aplicativo WhatsApp revelaram como policiais militares, sob investigação pelo assassinato do corretor de imóveis Vinícius Gritzbach, discutiam oportunidades de negócios com um delator ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC). As conversas expõem o envolvimento dos agentes em esquemas potencialmente lucrativos relacionados à lavagem de dinheiro.
Os prints anexados ao inquérito policial militar mostram que os PMs indiciados por organização criminosa falavam sobre como poderiam apresentar “propostas de investimento” a Gritzbach, que foi brutalmente assassinado em novembro do ano passado no Aeroporto de Guarulhos.
Em uma das mensagens, o tenente Giovanni de Oliveira Garcia expressou confiança na possibilidade de Gritzbach fechar um acordo com seu colega, o tenente Fernando Genauro da Silva, para a realização de obras em um imóvel localizado no Guarujá, no litoral paulista. Garcia é identificado como responsável pela coordenação da segurança do corretor assassinado, enquanto Genauro é mencionado como motorista do carro utilizado na execução do crime.
“Ele vai contratar”, assegura Garcia a Genauro. “Ele está organizando a documentação. Mas já deu sinal verde. Pode ir se preparando. Na próxima semana, a documentação estará pronta”.
As trocas de mensagens evidenciam uma relação próxima entre os policiais e Gritzbach, cuja morte ocorreu após ele ter denunciado corrupção dentro da Polícia Civil.
Um diálogo adicional revela a expectativa otimista de Genauro em relação ao projeto: “Qual a chance de a gente pegar essa obra, mano ‘Garça’?“. Ao que Garcia responde: “100%. Ele vai agilizar até semana que vem. Ele quer conhecer vocês“.
Ainda não está claro se o acordo com Gritzbach foi efetivamente concretizado. No entanto, o relatório final do inquérito menciona investigações sobre negociações que visavam ocultar patrimônio e explorava terrenos e projetos em nome de terceiros, evitando que o nome do corretor aparecesse em qualquer documentação.
Conforme as mensagens analisadas, o inquérito conclui que as comunicações entre os envolvidos indicam a intenção de realizar uma transação imobiliária que envolveria um investimento financeiro formalizado em nome de um terceiro identificado como ‘Vini’, referindo-se a Antônio Vinícius Lopes Gritzbach.
Uma das conversas destaca a menção ao traficante Emílio Congorra Castilho, conhecido como Cigarreiro, que é considerado um dos mandantes do homicídio de Gritzbach. Nela, Garcia pede que Genauro encontre um terreno e faça uma proposta de investimento para Gritzbach, alertando sobre o risco da informação chegar até Cigarreiro: “Gege (Fernando Genauro), chama seu sócio, encontre um terreno + investimento para eu mandar para o Vini. Está complicado sair a documentação do prédio; tem algo travando. O cara está receoso de passar para o nome do Vini sabendo que Cigarreiro pode descobrir”.
O relatório da investigação aponta que esse temor relacionado ao traficante ligado ao PCC ilustra a tensão interna e os riscos de represálias que tanto Genauro quanto Garcia enfrentavam.
Indiciamento
No dia 15 de abril deste ano, Giovanni de Oliveira Garcia, Fernando Genauro e mais 14 pessoas foram indiciados por organização criminosa. Apesar das graves suspeitas levantadas durante as investigações conduzidas pela Polícia Militar e Polícia Civil, não foram encontradas evidências que ligassem Garcia e outros policiais à execução do homicídio.
Os policiais Denis Martins, Ruan Silva e Fernando Genauro foram indiciados por organização criminosa voltada à prática de violência e também enfrentarão processos na Justiça comum pelo homicídio qualificado.