Um incidente alarmante foi registrado por Valdir De Oliveira Franco Filho, soldado do Exército Brasileiro, que denunciou agressões físicas e psicológicas ocorridas em um quartel de Barueri, na região metropolitana de São Paulo. O jovem, de 19 anos, formalizou a queixa no dia 10 de março, duas semanas após sua formatura nas Forças Armadas.
De acordo com o relato apresentado às autoridades, os abusos começaram logo após sua formatura. No dia 10 de março, ao informar seus superiores sobre a perda da fivela do cinto do uniforme, Valdir foi conduzido a uma sala isolada, sem iluminação ou supervisão. Nesse ambiente hostil, ele foi forçado a realizar flexões enquanto era agredido com chutes no peito e interrogado sobre o valor da peça perdida.
Após as agressões, Valdir continuou o treinamento físico e passou a sentir sintomas graves, como gosto de sangue na boca. Mesmo assim, foi obrigado a prosseguir, o que causou intensas dores de cabeça. À noite, ele foi trancado em seu alojamento. No dia seguinte, as atividades extenuantes continuaram, agravando suas dores. Sem que seus familiares fossem avisados, Valdir foi levado ao Hospital do Serviço de Assistência Médica de Barueri (Sameb), onde foi orientado a repousar por três dias, recomendação que não foi seguida pelo Exército.
Em 12 de março, o jovem foi internado no Hospital Militar de Área de São Paulo (HMASP), onde os exames revelaram que ele não possuía doenças pré-existentes. O laudo médico sugere que os sintomas sofridos são consequência das agressões.
O caso está sendo investigado como maus-tratos pelo 1º Distrito Policial de Barueri. O advogado de Valdir afirmou que o soldado viveu dias de verdadeira tortura no alojamento, apesar de ter se apresentado para servir ao país com dever cívico. As agressões causaram traumas físicos e psicológicos que poderão acompanhá-lo por toda a vida.
Sem movimento das pernas
O jovem alegou que, após as supostas torturas em 10 de março, perdeu o movimento das pernas e continua a vomitar sangue, mesmo passados mais de 40 dias do incidente.
Uma ressonância magnética realizada em 14 de abril revelou sacralização da vértebra L5, uma condição que pode resultar de traumas e lesões. Essa anomalia causa a fusão parcial ou total da vértebra lombar com o sacro, provocando dor lombar e alterações na biomecânica da coluna vertebral.
“Desde criança, meu sonho é ser mecânico do Exército. Era um sonho, que foi destruído”, lamentou Valdir para o portal Metrópoles. Ele expressou sua frustração, afirmando: “O que eu mais queria era ser mecânico lá dentro, e eles conseguiram destruir isso.”
Embora Valdir tenha esperança de recuperar o movimento das pernas com tratamento adequado, ele demonstrou preocupação com a falta de assistência médica. “Eles [superiores do Exército] falaram que os médicos iriam aparecer aqui para começar o tratamento e até agora nada. Falaram que ainda essa semana o médico ia aparecer”, relatou o soldado.

Valdir ainda criticou a situação, dizendo: “Se isso acontece com alguém que está aparecendo até na televisão, imagina com os outros.”
O que diz o Exército?
Em resposta às acusações, o Exército Brasileiro divulgou uma nota informando que Valdir apresentou mal-estar em 12 de março e foi encaminhado ao Posto Médico do Arsenal de Guerra de São Paulo. Após atendimento, foi transferido para o Serviço de Assistência Médica de Barueri (SAMEB), onde recebeu alta e retornou à unidade militar. No dia seguinte, 13 de março, ele apresentou os mesmos sintomas e foi transferido para o HMASP, onde permaneceu até 21 de março. Desde então, ele estaria se recuperando em casa com acompanhamento médico.
O Exército afirmou que Valdir tem recebido assistência médica desde que foi constatada sua condição de saúde debilitada. Uma sindicância foi instaurada para investigar as alegações feitas pelo soldado em 17 de abril de 2025. O Exército reiterou seu compromisso com os princípios éticos e legais que regem a conduta de seus integrantes.