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Essa é a quarta decisão consecutiva em que o BC americano mantém as taxas inalteradas. Postura cautelosa do Fed reflete cenário de incertezas com a política tarifária do governo republicano. Foto de arquivo: O presidente dos EUA, Donald Trump, observa Jerome Powell, seu indicado para presidir o Federal Reserve (Fed), durante discurso na Casa Branca, em Washington, EUA, em 2 de novembro de 2017.
REUTERS/Carlos Barria/Foto de arquivo
O Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, manteve as taxas de juros do país inalteradas na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano. A decisão unânime, anunciada nesta quarta-feira (18), veio em linha com as expectativas do mercado financeiro.
Essa foi a quarta reunião seguida em que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) optou por não alterar o referencial de juros. Em maio, o colegiado destacou a perspectiva econômica "incerta" e a atenção a riscos ao justificar sua posição.
Segundo o Comitê, as incertezas em torno das perspectivas econômicas seguem elevadas diante da política tarifária do presidente dos EUA, Donald Trump.
As decisões sobre as taxas de juros nos EUA geram efeitos também no Brasil. Quando as taxas permanecem elevadas, há maior pressão para que a Selic, a taxa básica de juros brasileira, também permaneça alta por mais tempo. Além disso, há impactos no câmbio. (leia mais abaixo)
O anúncio desta quarta-feira foi o quarto desde que Donald Trump tomou posse como 47º presidente dos EUA, em 20 de janeiro. O cenário, porém, ficou mais adverso de lá para cá, diante da guerra tarifária promovida pelo republicano e da escalada dos conflitos no Oriente Médio.
Economistas e agentes do mercado têm feito uma série de alertas sobre os impactos nos EUA das taxas aplicadas a outros países — em especial, contra os principais parceiros comerciais dos norte-americanos. Algumas tarifas estão em vigor. Outras, foram suspensas.
O grande destaque vai para a guerra comercial entre EUA e China. Os norte-americanos chegaram a anunciar taxas de até 145% sobre produtos chineses importados. Pequim, então, respondeu com alíquotas de até 125% sobre a importação de itens dos EUA.
Em 12 de maio, as duas maiores economias do mundo firmaram um acordo sobre tarifaço, com redução das taxas por 90 dias. Acusações de falta de cumprimento dos termos, porém, exigiram uma renegociação, cuja trégua está na mesa para avaliação de Trump e do presidente Xi Jinping.
Mesmo com a suspensão da escalada tarifária, agentes financeiros seguem receosos diante dos rumos da guerra comercial. A preocupação aumenta diante da aproximação da retomada das tarifas do chamado "Dia da Libertação" de Trump, que atingiu mais de 180 países. A medida volta a valer no início de julho.
Efeitos da política tarifária
Apesar de o objetivo central de Trump ser priorizar a indústria nacional (e usar as tarifas como barganha em negociações), a cobrança de taxas sobre a importação de produtos pode encarecer o custo de itens produzidos dentro dos EUA, o que tende a pressionar a inflação.
Além disso, a incerteza diante do vaivém tarifário e das ameaças do republicano tem prejudicado a confiança dos consumidores, levantando temores de que a maior economia do mundo possa enfrentar um período de esfriamento — ou, em cenários mais pessimistas, uma recessão.
Um dos principais dados que ajudam a medir a temperatura da economia dos EUA foi o resultado do Produto Interno Bruto (PIB). Conforme divulgação no fim de abril, o PIB do país registrou queda de 0,3% em taxa anualizada no primeiro trimestre. Foi o primeiro recuo em três anos.
?A taxa anualizada mostra como a economia cresceria em um ano se o ritmo atual for mantido. Essa medida é usada para facilitar a comparação com o crescimento de outros períodos.
O resultado contrariou as primeiras expectativas dos analistas, que previam uma alta de 0,3% para o período, e foi puxado por uma grande quantidade de bens importados por empresas que queriam evitar custos mais altos da política de tarifas anunciada pelo presidente dos EUA.
A confiança do consumidor gerou impactos, à medida que o sentimento empresarial também despencou. As companhias aéreas, por exemplo, citam incerteza devido às tarifas, enquanto economistas alertam que as taxas aumentarão os custos para empresas e famílias.
Prédio do Federal Reserve dos EUA em Washington, EUA (maio/2020)
Kevin Lamarque / Reuters
Reflexos no Brasil — e nos mercados
Juros elevados nos EUA aumentam o rendimento das Treasuries, os títulos públicos americanos.
Como são considerados os produtos de investimento mais seguros do mundo, as Treasuries com rentabilidades mais altas atraem investidores estrangeiros, que encaminham seus recursos para os EUA e dão força para o dólar.
Em outra perspectiva: o movimento tende a reduzir o volume de investimentos estrangeiros no Brasil, desvalorizando o real em relação à moeda norte-americana.
Além disso, dólar em nível elevado aumenta a pressão sobre a inflação por aqui, com reflexos no ciclo de alta de juros que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central do Brasil, tem aplicado.
18/06/2025
G1