Notícia
O evento reuniu milhares de pessoas na Avenida Paulista na tarde deste domingo (22). A cantora Ludmilla foi a última atração anunciada da Parada. Pelo segundo ano seguido, o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), não compareceu ao evento — ele está na Itália. Símbolo LGBT, leque ocupa a Paulista na parada: 'Para espantar a homofobia do ar'
Não teve jeito: a principal atração da 29ª Parada do Orgulho LGBT+ em SP foram os leques. Já famosos em grandes eventos do país — como, mais recentemente, o show de Lady Gaga em Copacabana —, o acessório formou um verdadeiro exército na Avenida Paulista.
Neste ano, os organizadores convocaram o público a levar seus leques. Mais do que um acessório de moda, o item se tornou um símbolo de resistência e expressão para a comunidade.
A 29ª edição tem como o tema o envelhecimento da população LBGT+ com o tema "Envelhecer LGBT+: Memória, Resistência e Futuro". Com isso, muito idosos estiveram presentes no evento, entre eles o ator Marco Nanini, que marcou a TV brasileira com o personagem Lineu Silva da Grande Família.
Ele foi aplaudido pelo público que estava no local. O ator, que é gay, segurava uma bandeira do Orgulho.
FOTOS: 29ª Parada do Orgulho LGBT+ colore a Av. Paulista em SP, e celebra o amor, as famílias e o envelhecimento
Marco Nanini na Parada LGBT+ de SP.
Luiz Franco/ g1
Mas, apesar do tema, a grande maioria dos participantes do evento era formada pelo público mais jovem.
Como em todos os anos, famílias marcaram presença na Parada. Entre elas, estavam Jarbas Bitencourt e o fotógrafo Mikael Bitencourt. Casados há mais de 15 anos, este é o primeiro ano em que a filha deles, a pequena Antonella, participa do evento.
Hoje com um ano, Antonella é o primeiro bebê nascido com o DNA de dois pais no Sul do Brasil.
Jarbas Bitencourt e o fotógrafo Mikael Bitencourt se tornarem pais através de uma barriga solidária
Luiz Franco/ g1
Envelhecer com dignidade e respeito
José Maria de Moraes e Rinaldo Vince.
Luiz Franco/ g1
Com o tema "Envelhecer LGBT+: Memória, Resistência e Futuro", esta edição da Parada reforçou a importância de construir um legado da população LGBTQ+, especialmente para as novas gerações.
“É importante lembrar às gerações mais novas, que também vão envelhecer, que a gente pavimentou esse caminho — e que muitas outras pessoas, que hoje não estão mais presentes fisicamente para falar sobre isso, sofreram as consequências de uma orientação”, disse José Maria de Moraes, de 65 anos, casado há 41 anos com Rinaldo Vince, de 61.
“Quem deu muito a cara à tapa foram as travestis, que até hoje sofrem muito mais preconceito — inclusive dentro da comunidade. Assim como as pessoas mais velhas também sofrem preconceito dentro da própria comunidade.”
O advogado Tiago Costa, de 33 anos, concorda e afirma que a população LGBTQ+, principalmente a gay, alimenta uma história de solidão na velhice por falta de referências.
“O imaginário do que é envelhecer parece ter sido negado às diversas siglas, em diferentes aspectos. Parece que não existe a possibilidade do envelhecimento, especialmente por causa da cultura da juventude, que valoriza consumir essa festa eterna em um período muito concentrado — como se houvesse um prazo de validade para isso.”
Mulher preta, gorda e bissexual, a atriz Isabela Moreira dos Santos, de 23 anos, afirma que não tem medo do envelhecimento, mas reconhece os desafios que essa fase impõe a quem pertence a múltiplas minorias.
“A gente precisa pensar no futuro de uma forma mais leve, mesmo sabendo que existem dificuldades.”
Para Isabela, ouvir as histórias de pessoas idosas LGBT+ é uma oportunidade de aprender sobre resistência e autocuidado.
“Aprendo resiliência com os idosos. Eles passaram por muita coisa para estarem aqui hoje. É uma chance de a gente olhar para o futuro de forma melhor.”
Os leques
Leques coloridos na 29ª Parada LGBT de SP.
Luiz Franco/ g1
Objeto que surgiu na China, com registros desde 3.000 a.C., criado originalmente para se refrescar, o leque foi adotado pela comunidade LGBTQ+ principalmente na arte drag e na cena ballroom — movimento cultural marcado por batalhas de dança no estilo vogue, que ganhou popularidade nos anos 1990 com a música e o clipe Vogue, da cantora Madonna.
O ballroom ou cultura de baile, além de ser um espaço de inclusão para corpos trans, pretos e latinos, tem um viés político e de competição. Por meio das performances, os bailarinos desfilam e dançam em batalhas de vogue.
Em 2022, com o lançamento do álbum Renaissance, no qual Beyoncé celebrou a house music e a cultura ballroom, os leques ganharam destaque e passaram a ser vistos em shows, boates e nas ruas — principalmente em eventos grandiosos, como os shows de Madonna e Lady Gaga no Rio de Janeiro.
“Entrou na nossa vida principalmente pelo show da Madonna no Rio. Pra gente, é pra espantar a homofobia do ar”, disse uma participante da Parada.
“Virou um símbolo de resistência LGBT. A gente usa como um verdadeiro simbolismo dentro da comunidade”, afirmou outra.
Aproveitando a campanha, muitos vendedores ambulantes estavam comercializando leques por até R$ 50.
Público da 29ª Parada LGBT.
Luiz Franco/ g1
Hino nacional
Parlamentares da esquerda estiverem presentes e discursaram no início do evento, antes dos shows. Entre as pautas, foi citada o fim da escala 6x1.
Os deputados estaduais: Carlos Giannazi (PSOL), Ediane Maria (PSOL), Carol Iara (PSOL) e Beth Sahao (PT), a vereadora Luana Alves (PSOL) e a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL) também estavam presentes. Além da figurinha carimbada, o deputado estadual Eduardo Suplicy (PT).
Beth Sahao, Carol Iara e Luana Alves discursaram para o público.
"Nós não iremos sair das ruas, não iremos voltar para o armário, não vamos deixar de dizer que mulheres amam mulheres e homens amam homens. Não vamos deixar de colocar nossas identidades nas ruas" disse Luana Alves.
Ao final dos discursos, o Hino Nacional foi tocado e o público cantou junto.
A vereadora Amanda Paschoal (PSOL) falou ao g1 sobre a importância do tema deste ano e a necessidade de articulação política para a defesa dos direitos da população LGBTQ+.
Vereadora Amanda Paschoal (PSOL)
Luiz Franco/ g1
“Ser LGBT em qualquer faixa etária é extremamente difícil na sociedade brasileira. Temos uma política e uma cultura de perseguição aos nossos corpos, às nossas identidades, às nossas orientações. Infelizmente, o envelhecimento, por si só, já é um desafio no Brasil — e, para a população LGBTQIAPN+, soma-se a toda essa violência estruturada contra nós”, afirmou.
“A gente precisa muito articular e construir políticas públicas para que possamos envelhecer com qualidade de vida, com cidadania, com acesso a direitos básicos e fundamentais que nos são negados desde sempre. Estamos vendo, agora, a extrema-direita atacando especialmente a população trans e travesti, principalmente em suas infâncias, usando isso para criar um pânico moral — muitas vezes conseguindo mobilizar votos e parcelas significativas da sociedade. Por isso, precisamos nos organizar para garantir o acesso a todos os direitos, em todas as fases das nossas vidas”, continuou.
A deputada Érika Hilton (PSOL) não compareceu neste ano. Ela está em Paris, na França, para participar da EuroPride 2025.
Participante exibe leque na 29ª Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, neste domingo, 22 de junho de 2025.
Luiz Franco/g1
Ludmilla confirmada de última hora
Ludmilla no Fervo da Lud
Júlio César/AgNews
A cantora Ludmilla foi confirmada de última hora entre as atrações da Parada. Ela se apresentou no trio da Amstel. Além de Ludmilla, o evento ainda teve shows de Pedro Sampaio, Banda Uó e Pepita.
Abertamente bissexual, Ludmilla é um dos nomes da música mais importante do país. Recentemente, ela teve sua primeira filha com a esposa Brunna Gonçalves.
Nasce Zuri, filha de Ludmilla e Brunna Gonçalves
Reprodução/Instagram
Ludmilla e Brunna Gonçalves contaram que seriam mães em novembro de 2024. O anúncio da gravidez de Brunna foi feito inicialmente durante o show da turnê Numanice 3, realizado em São Paulo, e posteriormente nas redes sociais da cantora e da dançarina. Elas estão casadas desde o fim de 2019.
Segundo estimativa da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o turismo gerado pela Parada deve injetar cerca de R$ 548,5 milhões na economia da cidade neste ano. O valor é 16% maior que no evento do ano passado, diz a entidade.
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Organizada pela Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo (APOLGBT-SP), a edição desse ano contou com 17 trios.
Público da Parada LGBT+ de São Paulo.
Luiz Franco/ g1
Parada do Orgulho LGBT+ em São Paulo celebra envelhecimento da população gay na 29ª edição na Avenida Paulista, neste domingo, 22 de junho de 2025.
Luiz Franco/g1
Também animaram o público os DJs das festas V de Viadão, Tersapata, Desculpa Qualquer Coisa e o bloco Minhoqueens.
Segundo os organizadores, é preciso cobrar do poder público a criação de centros de convivência que respeitem a diversidade, de residenciais preparados para acolher corpos e trajetórias plurais, e de políticas públicas que incluam orientação sexual e identidade de gênero como marcadores prioritários no debate sobre envelhecimento.
Volta ao armário, solidão, abandono, acesso à saúde: os desafios de envelhecer sendo LGBT+ no Brasil
Prefeito não aparece pelo segundo ano
Como no ano passado, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) que participou da Marcha para Jesus na quinta-feira (19) não compareceu ao evento. Nunes disse ao g1 que viajou no sábado à noite (20) para Itália, onde estão previstas agendas com autoridades locais em Milão e Roma, além de um encontro com o papa Leão XIV.
"Eu não vou estar aqui. Vou estar o Orlando [Morando], os secretários, todos estarão lá [na Parada], que tem todo o nosso apoio, nossa infraestrutura necessária para poder ser um grande evento. Só não vou votar porque estarei na Itália", explicou.
Parada LGBT+ em São Paulo
LECO VIANA/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO
22/06/2025
G1