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Os bonecos quase triplicaram os lucros de sua fabricante — e, segundo alguns analistas, deram novo impulso ao soft power chinês. De Xangai a Londres, as longas filas para comprar os bonecos Labulu viraram notícia
Getty Images via BBC
Você pode achá-los fofos, feios ou simplesmente esquisitos — mas é bem provável que já tenha ouvido falar dos bonecos peludos que viraram uma sensação global: os Labubu.
Nascido como um monstro, a criatura de aparência élfica criada pela fabricante chinesa Pop Mart virou febre na internet. E conta com uma legião de fãs célebres: Rihanna, Dua Lipa, Kim Kardashian e Lisa, do grupo musical sul-coreano Blackpink.
Mas o fascínio não se limita às celebridades — de Xangai a Londres, as longas filas para comprar os bonecos viraram notícia, e em alguns casos até resultaram em brigas.
"Você sente uma enorme sensação de vitória quando consegue comprar um, no meio de tanta concorrência", diz a fã declarada Fiona Zhang.
O fascínio mundial pelos Labubu quase triplicou os lucros da Pop Mart no último ano — e, segundo alguns analistas, deu novo fôlego ao soft power chinês, desgastado pela pandemia e pelo tensionamento das relações com o Ocidente.
Mas como tudo isso começou?
O que exatamente é Labubu?
Essa ainda é uma pergunta sem resposta para muita gente — e mesmo quem sabe a origem do personagem nem sempre consegue explicar o fenômeno.
Labubu é, ao mesmo tempo, um personagem fictício e uma marca. A palavra em si não tem significado. É o nome de um dos personagens da série de brinquedos The Monsters, criada pelo artista nascido em Hong Kong, Kasing Lung.
Os rostos de vinil são acoplados a corpos de pelúcia, com um visual característico: orelhas pontudas, olhos grandes e um sorriso travesso exibindo exatamente nove dentes. A internet, dividida e curiosa, não consegue decidir se são fofos ou apenas bizarros.
De acordo com o site oficial da Pop Mart, Labubu é "bondoso e sempre quer ajudar, mas frequentemente acaba fazendo o oposto por acidente".
Os bonecos Labubu já apareceram em diversas séries de The Monsters, como "Big into Energy", "Have a Seat", "Exciting Macaron" e "Fall in Wild".
O universo Labubu também inclui outros personagens que inspiraram seus próprios bonecos de sucesso — como a líder da tribo, Zimomo, seu namorado Tycoco e a amiga Mokoko.
Aos olhos de quem não conhece, alguns desses bonecos são difíceis de diferenciar.
Os especialistas sabem reconhecer, mas a fama dos Labubu acabou se espalhando — e outros membros da "família" também estão sumindo das prateleiras.
Quem vende Labubu?
Por alguns anos, grande parte das vendas da Pop Mart se concentrava nas chamadas blind boxes — caixas-surpresa, em que o comprador só descobre qual boneco adquiriu ao abrir o pacote. Foi nesse formato que a empresa firmou parceria com o artista Kasing Lung e obteve os direitos da marca Labubu.
Isso aconteceu em 2019, quase dez anos depois de o empresário Wang Ning fundar a Pop Mart, em Pequim, como uma loja de variedades, no estilo "tudo por 1 yuan".
Quando as blind boxes começaram a fazer sucesso, a Pop Mart lançou sua primeira série em 2016, com os bonecos Molly — figuras infantis criadas pelo artista de Hong Kong Kenny Wong.
Mas foram as vendas dos Labubu que impulsionaram o crescimento da Pop Mart.
Em dezembro de 2020, a empresa passou a negociar ações na bolsa de valores de Hong Kong — e os papéis valorizaram mais de 500% no último ano.
Hoje, a Pop Mart é uma gigante do varejo. Opera mais de 2 mil máquinas automáticas, conhecidas como "roboshops", ao redor do mundo.
Os bonecos Labubu já são vendidos em lojas físicas e virtuais de mais de 30 países — dos Estados Unidos e Reino Unido à Austrália e Singapura — embora, em alguns lugares, as vendas tenham sido suspensas temporariamente por causa da demanda altíssima.
Em 2024, as vendas fora da China continental representaram quase 40% do faturamento total da empresa.
Um sinal claro da popularidade: autoridades alfandegárias chinesas informaram, nesta semana, que apreenderam mais de 70 mil bonecos Labubu falsificados nos últimos dias.
Mas essa demanda não surgiu da noite para o dia. Foram necessários alguns anos para que os monstrinhos élficos conquistassem o mundo.
Como Labubu virou fenômeno global?
Antes de ganhar o mundo, Labubu era uma febre local na China.
Eles começaram a bombar justamente quando o país saía do isolamento provocado pela pandemia, no fim de 2022, segundo Ashley Dudarenok, fundadora da consultoria ChoZan, especializada no mercado chinês.
"No pós-pandemia, muita gente na China queria uma fuga emocional... e o Labubu era uma figura caótica, mas muito carismática", diz ela. "Ele encarnava esse espírito do anti-perfeccionismo."
A internet chinesa, que é gigantesca e muito competitiva, gera muitas tendências virais que não ultrapassam fronteiras. Mas essa conquistou o Sudeste Asiático rapidamente.
Fiona, que vive no Canadá, conta que ouviu falar dos Labubu por meio de amigos filipinos, em 2023. A partir daí, começou a colecioná-los — e embora ache os bonecos fofos, diz que o apelo está no fenômeno: "Quanto mais famoso fica, mais eu quero."
"Meu marido não entende por que alguém de 30 e poucos anos como eu ficaria tão obcecada com isso — tipo me importar com qual cor vou conseguir."
Além disso, é acessível, Fiona ressalta. Embora a demanda tenha inflacionado os preços no mercado de revenda, Fiona diz que o valor original — entre 25 e 70 dólares canadenses (cerca de R$ 100 a R$ 280) — era "razoável" para a maioria das pessoas que conhece.
"É o que normalmente se paga por um acessório de bolsa hoje em dia — então muita gente pode comprar", afirma.
A explosão de popularidade veio em abril de 2024, quando Lisa, estrela tailandesa do K-pop e integrante do Blackpink, começou a postar fotos com bonecos Labubu no Instagram. Depois disso, outros famosos ajudaram a transformar o boneco em um fenômeno global.
Em fevereiro, Rihanna foi fotografada com um Labubu pendurado na bolsa Louis Vuitton. Em abril, Kim Kardashian mostrou sua coleção de dez bonecos Labubu aos seus seguidores no Instagram. E, em maio, o ex-capitão da seleção inglesa, David Beckham, também postou uma foto com um Labubu, presente da filha.
Hoje, os bonecos parecem estar em toda parte — não só nas redes sociais, mas nas bolsas de colegas, amigos ou mesmo estranhos na rua.
O que explica a obsessão por Labubu?
Simplificando: ninguém sabe ao certo. Como muitas tendências virais, o apelo dos Labubu é difícil de explicar — resultado de timing, estética e do fator imprevisível da internet.
Pequim está satisfeita com o fenômeno. A agência estatal Xinhua afirmou que Labubu "demonstra o apelo da criatividade, da qualidade e da cultura chinesa em uma linguagem que o mundo entende", ao mesmo tempo em que permite mostrar "uma China descolada".
A Xinhua apresenta outros exemplos que mostram como a cultura chinesa está ganhando projeção internacional: o game "Black Myth: Wukong" e o filme de animação "Nezha".
Alguns analistas se dizem surpresos com o sucesso de empresas chinesas — de montadoras de carros elétricos e desenvolvedores de IA a varejistas — mesmo diante do receio ocidental quanto às ambições de Pequim.
"BYD, DeepSeek, todas essas empresas têm uma coisa em comum, incluindo Labubu", disse Chris Pereira, fundador e CEO da consultoria iMpact, à BBC News.
"Elas são tão boas que ninguém se importa com o fato de serem chinesas. Simplesmente não dá para ignorar."
Enquanto isso, Labubu segue ganhando seguidores nas redes. Milhões assistem a vídeos de novos donos abrindo suas tão aguardadas caixas.
Um dos mais populares, postado em dezembro, mostra funcionários da segurança de um aeroporto nos EUA se reunindo curiosos em torno de uma caixa fechada, tentando adivinhar qual modelo está dentro.
Esse elemento surpresa é uma parte importante do apelo, diz Desmond Tan, colecionador veterano, enquanto circula por uma loja da Pop Mart em Cingapura balançando energicamente as blind boxes antes de escolher uma. A cena é comum nas lojas da marca.
Desmond coleciona personagens raros, os chamados chasers, que fazem parte de séries especiais da Pop Mart, incluindo Labubu.
Em média, ele diz encontrar um chaser a cada dez caixas — um bom índice, segundo ele, se comparado à média geral de um para cada cem.
"Conseguir um chaser só de balançar a caixa, aprender a identificar as diferenças…", diz, "é muito gratificante".
"Se consigo logo na primeira ou segunda tentativa, fico superfeliz!"
20/06/2025
G1