Com líderes em intenções de votos com pré-candidatos a vice-prefeito já definidos, a eleição municipal em São Paulo destoa da corrida eleitoral nas principais capitais brasileiras.
O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) tem, desde fevereiro, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) fazendo pré-campanha ao seu lado como vice. Já o prefeito Ricardo Nunes (MDB) anunciou, na sexta-feira (21), Ricardo de Mello Araújo para o posto.
Nas dez capitais mais populosas com eleições municipais – com exceção de São Paulo: Rio de Janeiro, Fortaleza, Salvador, Belo Horizonte, Manaus, Curitiba, Recife, Goiânia e Porto Alegre –, o cenário paulistano encontra paralelos em duas, mas com apenas uma chapa pré-definida:
A Justiça Eleitoral define o período entre 20 de julho e 5 de agosto para os partidos e federações realizarem convenções para deliberar sobre coligações, candidaturas e composições de chapas para as eleições.
Estas discussões, de maneira geral, se estendem ao longo da pré-campanha e vão esquentando conforme o calendário eleitoral vai se aproximando do período, mas, especialmente os anúncios de vices, costumam acontecer durante as convenções.
Nas últimas cinco eleições em São Paulo, só um candidato que terminou como um dos dois com mais votos válidos ao final do pleito anunciou seu vice antes do período de convenções: Boulos, com a ex-prefeita Luiza Erundina (PSOL), em 2020.
Pré-convenções
No caso de São Paulo, a escolha de um vice antecipadamente ao período de convenções serve como uma “ampliação ideológica e de alcance da campanha”, segundo o cientista político Nilton Sainz.
“Além disso, antecipa a consolidação das alianças políticas e pressiona os demais candidatos a realizar e anunciar suas escolhas”, diz o pesquisador do grupo Representação e Legitimidade Democrática (ReDem), da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Marta chegou à chapa em meio a um acordo entre PT e PSOL. Em 2022, Boulos desistiu de candidatura ao governo do estado e apoiou o petista Fernando Haddad. Agora, em 2024, o partido não vai lançar candidatura própria na capital e apoiará o deputado.
Após nove anos fora do partido, Marta voltou ao PT sob a benção do presidente Lula (PT) e deixando para trás a chefia de uma secretaria no governo Nunes, de quem se afastou em meio à aproximação do prefeito com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
No outro lado da disputa, Mello de Araújo, que é coronel da reserva da Polícia Militar, chegou à chapa de Nunes sob indicação de Bolsonaro, em acordo que faz do prefeito o candidato oficialmente apoiado pelo ex-presidente na capital paulista.
O anúncio de Mello Araújo ocorreu em meio ao avanço da pré-candidatura de Pablo Marçal (PRTB), que almejava conquistar o apoio de Bolsonaro para sua empreitada, e o descontentamento de bolsonaristas com a aliança com Nunes.
“O exemplo do Nunes ilustra uma ampliação com um perfil de direita, associando a campanha para a prefeitura com alguém de direita, especialmente para polarizar com seu principal adversário”, diz Sainz.
“Já o caso do Boulos parece ilustrar uma estratégia de mesclar a chapa com alguém experiente na política, de perfil mais tradicional e com menor rejeição, suavizando a imagem de uma candidatura radical”, acrescenta.
Polarização
Para o analista político José Alves Trigo, a antecipação do anúncio de vices é um sintoma da mescla entre a visibilidade de São Paulo e o acirramento da polarização nacional entre Bolsonaro e Lula, especialmente pós-2022, quando ambos se enfrentaram diretamente.
Em 2022, Lula obteve em São Paulo cerca de 490 mil votos a mais que Bolsonaro no segundo turno. A capital paulista ficou atrás apenas de Salvador – com 640 mil votos a mais – como a que deu maior margem de votos ao petista.
Em 2018, quando Bolsonaro venceu Haddad, São Paulo não votou no candidato do PT – contraste este que faz do maior colégio eleitoral do país um campo de disputa em aberto para os dois polos.
“As duas alas da nossa política brasileira querem usar São Paulo para avaliar o seu poder. É como se fosse um laboratório”, afirma Trigo, que é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, apontando as eleições de 2026 no horizonte.
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