O Ministério Público denunciou na última segunda-feira (29) as mulheres que praticaram homofobia e agrediram um casal de homens após confusão em uma padaria, localizada no bairro Santa Cecília, no centro de São Paulo. A agressão aconteceu no mês de fevereiro deste ano.
As agressoras, identificadas como Jaqueline Santos Ludovico e Laura Athanassakis Jordão, foram acusadas pelos crimes de injúria racial, lesão corporal, ameaça e vias de fato.
O vídeo, que viralizou nas redes sociais, mostra o momento em que Laura grita ofensas homofóbicas e agride o casal que chegava no estabelecimento após uma festa. Na denúncia realizada pelo Ministério Público, evidencia-se a ameaça de Jaqueline feita às vítimas: “eu tenho uma arma no carro e vou resolver essa situação”.
Na decisão do MP, o juiz ainda determinou que Jaqueline pague ao menos 10 salários mínimos de indenização para Adrian e Rafael, vítimas das agressões. Laura, que também participou das ameaças feitas ao casal, foi sentenciada a pagar cinco salários mínimos para cada um.
Em nota, a defesa do casal afirmou que recebeu a notícia da denúncia contra as mulheres com “serenidade e anseio por justiça”. Segundo Flávio Grossi, representante da defesa do casal, as penas máximas previstas em lei, somadas, para Jaqueline podem chegar a 12 anos de prisão, enquanto para Laura a 10 anos.
A defesa ainda completa que o casal é grato ao trabalho desenvolvido pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância de São Paulo, a DECRADI, bem como ao Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais e de Intolerância do Ministério Público.
“Espera-se que o presente caso, que ganhou atenção midiática, sirva de lição pedagógica a todos os homotransfóbicos ainda existentes: LTGBTfobia é crime e não tem qualquer lugar na sociedade democrática brasileira”, aponta a defesa.
”É só você fechar essa mer** que consegue estacionar”
Era dia 3 de fevereiro de 2024 quando o casal Adrian e Rafael se aproxima lentamente com o próprio carro de uma vaga reservada para automóveis da padaria Iracema, no bairro Santa Cecília. Eles tinham a intenção de estacionar no local que, por sua vez, estava ocupado por três pessoas que conversavam em pé.
Em entrevista à CNN, Rafael contou que Jaqueline teria cruzado os braços no local da vaga e, neste momento, foi retirada pelo homem que a acompanhava para o lado do veículo. A mulher novamente voltou para frente do carro e empurrou o retrovisor do veículo da vítima e disse: “É só você fechar essa me*** que consegue estacionar”. Após ser contida pelo homem que a acompanhava, ela passou a gritar frases homofóbicas.
Jaqueline ainda atirou em um cone de trânsito em direção ao casal e o comportamento violento se estendeu para dentro da padaria. “Ela veio para cima da gente com uma série de ofensas, de baixo calão e cunho homofóbico”, afirmou Rafael. As vítimas ainda relataram chutes e tapas por parte da agressora. Dentre as frases proferidas contra o casal por Jaqueline, se destacavam: “Esses viad** do cara*”, “Só porque dá o c”, “Quer estar onde a gente está”.
Laura, por sua vez, incentivou a conduta da colega e também passou a ofender Adrian e Rafael, além de arremessar um cone em direção a Rafael, o qual não lhe acertou. O casal entrou na padaria na tentativa de se defender, mas foram seguidos por Jaqueline. Testemunhas tentaram acalmar a situação, mas sem sucesso.
Com toda a confusão, Adrian começou a filmar a situação e Jaqueline não gostou. Portanto, passou a agredir o homem com golpes na região do rosto, o que causou leves sangramentos. A agressora ainda completou: “tirei sangue seu foi pouco”. O amigo da mulher e os funcionários do local tentaram contê-la, mas ela teria se negado a parar e chegou a empurrar o gerente do estabelecimento.
Segundo o MP, as condutas das duas mulheres causaram revolta nos clientes do local, que se mobilizaram para acionar a Polícia Militar e retirá-las do comércio. A Polícia Militar foi acionada e compareceu ao local para atender a ocorrência.
Em nota, a padaria Iracema informou na época que lamentava profundamente o acontecido no estabelecimento e repudia veementemente qualquer forma de discriminação e desrespeito.
Na época em que o vídeo ganhou repercussão nas redes, a CNN procurou a defesa das agressoras que afirmou que teriam duas versões dos fatos. Desse modo, a defesa pontuou que a história completa e a verdadeira complexidade dos eventos exigiam uma abordagem mais sensível e equilibrada, que reconhecesse a situação de vulnerabilidade de Jaqueline e a injustiça de julgá-la apenas com base em fragmentos de informações.
“Neste momento delicado, é imprescindível que se resguarde a privacidade e a dignidade da família da Sra. Jaqueline, especialmente dos seus filhos menores envolvidos, garantindo-lhes o direito a um julgamento justo e imparcial, sem o peso indevido da pressão pública e do linchamento virtual.”, completava a nota.
Após a divulgação da denúncia do MP, a CNN procurou novamente a defesa de Jaqueline, que afirmou que ela nega as acusações e afirma ter agido em legítima defesa após ser provocada, ameaçada e ofendida como mulher. A CNN também tenta contato com a defesa de Laura.
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